POESIA SONORA “XAPIRI/CURUOCANGÔ: PORQUE “O AMANHÃ NÃO ESTÁ À VENDA”

O pensador e escritor indígena Ailton Krenak, em seu recente livro publicado pela Editora Companhia das Letras, intitulado “A Vida não é útil", afirma poderosamente que “(...)A vida é esse atravessamento do organismo vivo do planeta numa dimensão imaterial. Em vez de ficarmos pensando no organismo da Terra respirando, o que é muito difícil, pensemos na vida atravessando montanhas, galerias, rios, florestas. A vida que a gente banalizou, que as pessoas nem sabem o que é e pensam que é só uma palavra. Assim como existem as palavras “vento”, “fogo”, “água”, as pessoas acham que pode haver a palavra “vida”, mas não. A vida é transcendência, está para além do dicionário, não tem uma definição.” (p.15)

Pensamos e acreditamos que uma das formas mais potentes de “tocar a vida tudo em volta”, de chegar perto de sua intangibilidade e transcendência (transcendência imanência, pra usar de um oxímoro) é, sem dúvida, através da Poesia. Há 12 anos fazemos isto, investimo-nos desta tarefa de irradiar a palavra poética, em suas mais diversas modalidades, como gostamos de afirmar: verbivocovisuais, tendo sempre como princípio ético-estético que esta seja combustão, afirmação de outros modos de vida possíveis, que seja palavra indomável, que nos afete, nos inquiete e nos transforme.

Estamos vivendo tempos terríveis, sinistros, e com um canalha, genocida desgovernando nosso País. Não dá pra se omitir, não dá pra silenciar. Não podemos deixar que nos tirem também o amanhã. O poema sonoro “Xapiri/Curuocangô” é um brado contra isso tudo. É também uma homenagem aos nossos parentes, os povos originários, com quem realmente podemos aprender a viver em nosso Planeta.


"Xapiri Curuocangô" é uma performance poética do Tatamirô Grupo de Poesia, fruto de três anos de estudos dos cantos e rituais de etnias indígenas da Amazônia e da leitura intermitente do livro "A Queda do Céu" do xamã yanomami Davi Kopenawa e do antropólogo franco-marroquino Bruce Albert, dialogando com uma diversidade de sons percussivos que culminaram em Poesia Sonora.


Todos os poemas vocalizados são do poeta Herbert Emanuel. Além destes, há trechos citados do livro “A queda do Céu”, de Davi Kopenawa e Bruce Albert, do conto “Meu Tio Iauaretê”, de Guimarães Rosa, na voz sampleada do ator Lima Duarte, o trecho adaptado da letra da música Tu tu tu tupi, de Hélio Ziskind e a frase que dá título ao livro de Ailton Krenak :“O Amanhã Não está à Venda”.


FICHA TÉCNICA

Adriana Abreu, declamação com processador vocal
Herbert Emanuel, vocalização, texturas sonoras, mixagem e disparo de samples
Ton Quadros, percussão
Naldo Martins, performance

AGRADECIMENTOS:
Aos nossos amigos e familiares, aos integrantes do Tatamirô, à Equipe de produção do Macapá Verão Online, à Prefeitura de Macapá.

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