HAVANA SEM GLAMOUR


Sobre o livro "O insaciável homem-aranha" de Pedro Juan Gutiérrez

Por Adriana e Herbert




Pedro é um escritor cubano. Nasceu em 1950. Trabalhou como cortador de cana, jornalista, vendedor de sorvete. Fez 61 anos e vive numa Havana arruinada. Num primeiro momento teve ardores patrióticos, mas depois se desiludiu. Gutiérrez faz uma abordagem orgânica do bas-fond cubano: prostitutas, traficantes, travestis, assassinos, tarados que, de certo modo, se assemelha ao olhar do americano Bukovsky sobre os seres derrelitos, marginais, que a sociedade não quer ver, mas que estão ali. Logo, é dono de uma literatura visceral construída a partir de experiências repugnantes, donde se extraem encantamentos - uma espécie de sublime do sórdido.


Em O insaciável homem-aranha, Pedro Juan Gutiérrez trata,também, da decadência do corpo. Descreve um homem que já passou dos 50, disposto sexualmente, mas assolado das covardias que advêm com a idade.


"Duas adolescentes muito sexy dançavam mexendo a pelve, rindo e quando passei por elas gritaram para mim:

_ Vai, coroa, vem pra cá que você é suavecito e refrescante, envolvente e elegante e com dinheiro generosoooooo, háháhá. Vai, coroa rico, vem pra cá e vamos gozarrrrr!

Olhei bem para elas. Deviam ter uns quinze, dezesseis anos. Eram duas mulatas muito magras e com um tremendo suingue. Se fosse uns anos atrás, eu ficava ali e fazíamos uma orgia de quatro dias.Mas os anos não passam à toa. O sujeito vai ficando mais precavido e covardão. Que horror!Nunca pensei que chegaria a ser tão decadente e reacionário a ponto de recusar um convite desses."

São dezoito narrativas, onde ele descreve o universo lazarento, desprezível de Cuba.Universo marcado pelas peripécias de sobrevivência. Mais do que se valer de um exibicionismo sexual, como fez na Trilogia suja de Havana, o sexo, nos contos de O insaciável homem-aranha, está ali em meio à sarjeta, confundido com o esterco, beira ao asco, ao tédio nada excitante.

"Música estridente vindo de toda parte, crianças gritando, ruído, os recipientes de lixo transbordando de podridão fétida, as mulheres também gritam. Gostaria de chegar perto da cortina florida e olhar um pouco, bater uma punheta. Posso me aproximar e propor alguma coisa para eles.Perguntar se precisam... de quê? Não sei. De alguma coisa.Ah, já sei, veneno para barata. Querem desinfetar?Atravesso a rua. É muito estreita."

Sua literatura é mais conhecida fora do que dentro de seu país, pois não agrada ao establishment cubano, ou seja, escapa aos clichês, ao pitoresco, ao exótico que se construiu em torno da Pátria de Fidel.

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